Caixa de texto: Departamento de Saúde Comunitária

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Um dos problemas encontrados entre a violência é o suicídio que hoje se constitui em um importante problema de saúde pública. Está entre as dez principais causas de morte na população mundial em todas as faixas etárias, ocupando o terceiro lugar no grupo com idade entre 15 e 34 anos. As taxas variam em função do contexto social, gênero, meios utilizados e faixa etária. Entre adolescentes, os comportamentos de risco, em interação com fatores sociais e ambientais, têm gerado um aumento de mortes prematuras. Estudo realizado com dados de noventa países estimou em 7,4/100 mil a taxa de suicídios entre jovens de 15 e 19 anos. Entre aqueles com maiores taxas estão: Sri Lanka (46,5/100 mil), Lituânia (23,9/100 mil) e Rússia (23,6/100 mil). O Canadá aparece na 15ª posição (10,8/100 mil) e os Estados Unidos na 34ª (8,0/100 mil). No Brasil, a estimativa foi de 4,2/100 mil. Foram constatadas, também, taxas mais elevada entre meninos (10,5/100 mil) do que entre meninas (4,1/100 mil). Em outro estudo realizado com a população brasileira, entre 1980 e 2000, os autores verificaram um aumento de 32,8% na taxa masculina de suicídio, com crescimento em todos os grupos etários; entre as mulheres, as taxas são mais altas para o planejamento e tentativa de suicídio (BAGGIO et al, 2009).

Nos países de economia central, o suicídio tem sido reconhecido como uma prioridade em saúde pública, apresentando-se entre as dez principais causas de morte em todas as idades e entre as três primeiras entre 15 e 35 anos. Adicionalmente, sua incidência vem aumentando na população jovem. No Brasil, embora a mortalidade por suicídio tenha se estabilizado em torno de 4 mortes por 100 mil habitantes, recente publicação mostrou que, entre 1979 e 1998, as taxas de suicídio aumentaram 43% entre os jovens residentes nas principais capitais do país (WERNECK et al, 2006).

A prevalência dos suicídios entre as principais causas de morte é alarmante. Entre as pessoas de 15 a 44 anos, é a quarta principal causa de morte no mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 815 mil pessoas cometeram suicídio em 2000. No Brasil, em 2004, das 127.470 mortes por causas externas, 8.017 pessoas (6,3%) morreram por essa causa; no Estado de São Paulo, de 29.492 mortos por causas externas, 1.530 foram suicídios (5,2% do total de causas externas). Segundo estudo de 2005, a taxa de suicídio no Brasil cresceu 21% de 1980 a 2000, principalmente entre os jovens de 15 a 24 anos (PONCE et al, 2008).

Para alguns autores, o crescimento das taxas de suicídio é de 200% a 400% nos últimos vinte anos, em particular, entre os adolescentes. A Organização Mundial da Saúde avalia o suicídio como problema de saúde pública, pois configura uma entre as dez causas mais freqüentes de morte em todas as idades, da mesma forma que é a segunda ou terceira causa de morte entre 15 e 34 anos de idade. Estima-se que, para cada suicídio, existem pelo menos dez tentativas suficientemente sérias ao ponto de exigir atenção médica; mais ainda: para cada tentativa de suicídio registrada, existem quatro não conhecidas. As relações entre idade e sexo e suicídio, assim como a freqüência destes, variam muito no que concerne ao país estudado. De maneira geral, é mais comum entre os homens com idade entre 25 e 35 anos, ao passo que as tentativas de suicídio são mais usuais em mulheres com idade entre 18 e 30 anos (MELLO, 2000).

Segundo a Organização Mundial da Saúde, diversas circunstâncias produtoras de estresse podem aumentar o risco de suicídio. Dentre estes fatores destacam-se o desemprego, a pobreza, a perda de um ente querido, as discussões familiares ou com amigos, a ruptura de uma relação afetiva e problemas legais ou no trabalho. Ainda que esses eventos sejam relativamente freqüentes, poucos são os indivíduos que, sob essas condições, cometem o suicídio. Neste sentido, é importante considerar a existência de outros fatores predisponentes no processo de determinação do suicídio como, por exemplo, o uso abusivo de álcool e drogas, a disponibilidade dos meios para efetuar o ato suicida (exemplo: arma de fogo em casa), a violência física e/ou sexual na infância, o isolamento social e os distúrbios psíquicos como a depressão, a esquizofrenia ou os sentimentos de desesperança. Dentre uma gama muito variada de fatores, a história pregressa de tentativa de suicídio tem sido o evento merecedor de maior destaque na literatura; estimativas apontando para chances 20 a 30 vezes mais elevadas de suicídio em indivíduos que referem este tipo de experiência anterior (WERNECK et al, 2006).

A repercussão na saúde pública de certos problemas sociais, como os suicídios constituem uma preocupação para as autoridades sanitárias. Segundo os informes oficiais registrados na OPS, na região das Américas se registram anualmente cerca de 55 000 suicídios (BARBARITA & LOPEZ, 2002).

O estudo do suicídio e dos fatores associados a esse tipo de comportamento tem interessado a muitos pesquisadores conforme demonstra a grande quantidade de trabalhos publicados sobre este assunto. É óbvia a importância desses estudos para um melhor conhecimento a respeito desta forma de comportamento de modo a ensejar o desenvolvimento de condições para sua previsão e controle, medidas essas de alcance social e humano indiscutível (HESKETH & CASTRO, 2007).

O comportamento suicida é comumente classificado em três diferentes categorias ou domínios: ideação suicida, tentativas de suicídio e suicídio propriamente dito. Apesar de que poucos dados são disponíveis, estudos clínicos e epidemiológicos sugerem a presença de um gradiente de gravidade e também de heterogeneidade entre estas diferentes categorias. Assim, num dos extremos teríamos a ideação suicida, ou seja, os pensamentos, idéias e desejos de estar morto e no outro, o suicídio completo ou propriamente dito, com as tentativas de suicídio entre estes.

A presença de ideação suicida e, principalmente, de uma história positiva de tentativas de suicídio têm sido vistas como tendo um importante valor preditivo na avaliação do risco para suicídio. Entretanto, uma maior quantidade de estudos, principalmente prospectivos, é necessária para melhor compreender a relação entre estes diferentes tipos de manifestações do comportamento suicida (TURECKI, 2007).

Os problemas ocasionados pelo suicídio vão mais além do óbito do suicida. "Cada suicídio supõe a devastação emocional, social e econômica de numerosos familiares e amigos". Na região do Pacífico Ocidental, o suicídio representa 2,5% de todos os gastos com enfermidades. Isto porque antes da consumação, se registra a média de 10 a 20 tentativas de suicídio que provocam lesões, hospitalizações e traumas emocionais e mentais que demandam tratamento especializado. Por exemplo, embora os suicidas sejam majoritariamente adultos cada vez mais jovens entre 15 e 25 anos tiram a própria vida, como mostram dados da Secretaria de Saúde mexicana, nos últimos 13 anos, dos suicídios de jovens no país (EVANDRO, 2007).

O suicídio é um dos maiores desafios mundiais de saúde pública, causando a morte de cerca de 1 milhão de pessoas por ano. Estimativas sugerem que as fatalidades podem crescer para 1,5 milhão pelo ano 2020 e dez a vinte vezes mais em termos de tentativas de suicídio. Isto representa uma morte a cada 20 segundos e uma tentativa a cada um ou dois segundos. Anualmente, pelo menos 100 mil adolescentes se suicidam no mundo.

 As mais altas taxas de suicídio estão no Leste Europeu e as mais baixas encontram-se principalmente na América Latina, nos países islâmicos e em alguns países asiáticos. Em relação à faixa etária, existe a clara tendência do aumento com a idade. A taxa começa com 1,2 para 100 mil homens (no grupo etário de 5-14 anos) e gradualmente aumenta para 55,7 (com mais de 75 anos). Em relação às mulheres, ela passa de 0,5 para 18,8, nas mesmas faixas etárias (CAMILIANO, 2007).

É um fenômeno complexo que tem atraído a atenção de filósofos, teólogos, médicos, sociólogos e artistas através dos séculos. Como um sério problema de saúde pública, o suicídio demanda nossa atenção, mas sua prevenção e controle, infelizmente, não são tarefas fáceis. O suicídio hoje é compreendido como um transtorno multidimensional, que resulta de uma interação complexa entre fatores ambientais, sociais, fisiológicos, genéticos e biológicos.

A pesquisa na área tem sugerido que entre 40 e 60% das pessoas que cometeram o suicídio consultaram um médico no mês anterior ao suicídio; destes, a maioria foi a um clínico geral, e não a um psiquiatra. Em países nos quais os serviços de saúde mental não estão bem organizados, a proporção de pessoas em crises suicidas que consultam um clínico geral provavelmente é maior. Identificar, avaliar e manejar pacientes suicidas é uma importante tarefa do médico, que tem um papel fundamental na prevenção do suicídio. (OMS, 2007).

Tem também história tão antiga quanto à da humanidade. Ainda a Bíblia cita inúmeros casos de morte voluntária de si mesmo, através de meios diversos. Na Grécia e Roma antiga eram também numerosos os suicídios: conta-se que, nos tempos da decadência, os indivíduos, esgotados pela corrupção e excesso de prazeres, acabavam buscando, na morte, remédio contra o tédio da vida. Escolas filosóficas contra a vida floresceram em todo o mundo; os suicídios por imitação, por amor, por vingança multiplicaram-se na vida real e inspiraram a literatura e as artes. Shakespeare, Goethe, Dante mostram, em suas obras, heróis suicidas. Mais tarde, são os próprios escritores que se matam: Anthero de Quental, Camilo, Hemingway e, entre nós, Raul Pompéia (MELLO-JORGE, 1980)

A taxa de suicídio por idade, sexo e relação de gênero no Brasil no período de 1980-2000 aumentou, paralelamente com idade, especialmente entre o sexo masculino. Durante este período, a proporção de homens que se suicidam era constantemente mais alta que das mulheres. Considerando as taxas globais de suicídio, ocorrem aproximadamente 2.3 para mulheres e 4 vezes para homens brasileiros por 100.000 habitantes (SANTOS et al, 2005).

Pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde aponta que no ano de 2004, alguns estados e capitais brasileiras já apresentavam taxas de suicídio comparáveis aos países com índices preocupantes. A taxa de mortalidade por suicídio em 2004 era de 4,5 mortes por 100 mil habitantes. De acordo com o estudo, que abrangeu o período de 1994 a 2004, o Rio Grande do Sul tinha, em 2004, a maior taxa de mortalidade masculina por suicídios: 16,6 casos por 100 mil homens. Já entre as capitais, a maior incidência foi em Macapá (AP), com 13,6 suicídios por 100 mil homens. No que diz respeito às mulheres, Mato Grosso do Sul era o estado que apresentava as maiores taxas - 4,2 mortes por 100 mil mulheres -, e, entre as capitais, Teresina (PI), com taxa idêntica (INFORMESERGIPE, 2007).

O Rio Grande do Sul, RS, é o Estado brasileiro que, historicamente, tem apresentado os maiores coeficientes de suicídio do País. Esse fato tem instigado pesquisadores oriundos de vários campos do conhecimento, destacando-se as ciências sociais e da saúde, que apontaram a etnia, a cultura, as crises sociais e inclusive aspectos climáticos da região, como possíveis fatores ligados ao problema (MENEGHEL, et al, 2004)

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